Publico uma redação de minha autoria sobre o acordo de Língua Portuguesa.
Língua, uma marionete?
O Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa aspira à unificação das grafias empregadas em sete países lusófonos, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Os cruzados dessa empreitada alegam que ela facilitaria a comunicação entre os diversos falantes da Língua. Contudo, esse tresloucado projeto apenas obriga os lusófonos a reaprenderem a escrita correta dos vocábulos portugueses.
O famigerado acordo modifica detalhes lingüísticos como o hífen, o trema, a acentuação, o alfabeto e a grafia de algumas palavras. É veraz que essas minúcias da Gramática Portuguesa sempre foram complicadas e que muitas pessoas não as dominavam ou sequer as conheciam. Contudo, essa concórdia ortográfica não simplificou nem tornou mais práticas as regras da Língua, ou seja, não facilitou o aprendizado das gerações vindouras, mas sim dificultou o cotidiano dos já alfabetizados, uma vez que estes serão obrigados a reaprender a escrever, seguindo regras tão ou mais complicadas que as anteriores. Uma ilustração magnífica para esse aumento de complexidade é o acento agudo. Antes, o “i” e o “u” quando representavam a segunda vogal tônica de um hiato eram acentuados, como em “saúva” e “feiúra”. Com esse acordo, o “i” e “u” quando componentes de um hiato, tônicos e paroxítonos, apenas caso não sejam precedidos de ditongo, levam acento, isto é, “saúva” continua acentuada, porém “feiúra” perde o acento, sendo grafada como “feiura”. Portanto, são essas inovadoras regras mais fáceis ou lógicas que as anteriores?
Além dessa total falta de pragmatismo, a que, teoricamente, os idealizadores desse projeto visavam, o Acordo tenta domar algo arredio por essência. A Língua não pode ser controlada por burocratas, que, ao imporem essa concórdia ilógica, crêem, cegamente, que podem manipulá-la da mesma forma que um ventríloquo manipula sua marionete. Essa tentativa vã de controle autoritário é impossível, pois a Língua pertence unicamente ao povo e esse não mudará, sem sofrimento intelectual, seus hábitos e tradições gráficas, arraigadas por séculos de excelente literatura, apenas porque um grupelho de doutos quis atentar contra a nobre grafia portuguesa. Se Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa escreveram óptimos épicos, por que os portugueses abandonariam ao limbo as consoantes mudas? Se as idéias de Joaquim Maria Machado de Assis e João Guimarães Rosa foram brilhantes, por que os brasileiros condenariam ao ostracismo os acentos?
Dessa forma, percebe-se que o Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa não auxilia ninguém, apenas impõe, autoritariamente, aos falantes da Língua uma nova e artificial grafia. Resta saber se os lusófonos acatarão ousadia tão malévola perante a Língua de Camões.
Até mais!
Vítor
2 comentários:
Não entendo o porquê da sua enorme preocupação em usar tantas palavras difíceis ou requintadas.
A maior prova de que se conhece a língua e sabe se comunicar é fazendo uma filtragem no seu texto.
Afinal, como você quer que leiam seus textos, se só de ler o primeiro parágrafo eu me canso. Seja mais informal, mais objetivo, exageros são desnecessários.
Isso é uma crítica construtiva, saiba assimilá-la.
Concordo que isso foi uma crítica construtiva e também concordo que você foi bastante educado.
Contudo, não acredito que a comunicação deva ser meramente informal e objetiva. Creio que a Linguagem não deva meramente estabelecer comunicação, ela deve ser trabalhada cuidadosamente buscando fazer uso de qualquer palavra, inclusive das difíceis.
Trabalho melhor com essa questão na postagem inaugural do blog: http://argumentoparnasiano.blogspot.com/2008_02_01_archive.html .
Grato sua atenção, anônimo.
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