sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Digressões Pessoais

Olá!

Esta postagem de fato será mais curta, pelo simples motivo que tem como objetivo apenas explicar o que é um blog a meu ver.

Esta importante espécie de página da internet é, necessária e essencialmente, megalomaníaca e egocêntrica. Afirmo tal estado de natureza, pois é imprescindível que uma pessoa apresente essas característica para crer que alguém irá se importar com divagações sobre o Eu alheio.

Portanto, afirmo, veementemente, que este blog, o meu blog, é uma atitude megalomaníaca e egocêntrica, principalmente, quando a postagem for, especificamente, para um texto de minha autoria. Também é fato que, por causa dessa atitude, postarei algumas coisas consideradas, por minha pessoa, intelectuais, pois acredito ser um pseudo-intelectual, que poderá, algum dia, ser chamado de intelectual ou erudito, principalmente se minhas horas de estudo diárias continuaram sendo equivalentes ao números de horas de trabalho dos proletários do livro O Germinal.

Tentarei, para não irritá-los muito, alternar digressões pessoais, como esta, com textos de interesse universal, por isso, da próxima vez, o tema principal não será minha pessoa.

Até mais,

Vítor.

PS: O processo de-vir-a-ser um intelectual, por muitos, é qualificado de nerdice.

PS 1: Esta postagem é uma extensão do “PS” do Imperador Humano, que se encontra no link : http://argumentoparnasiano.blogspot.com/2008/02/imperador-humano.html .

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Imperador Humano

Olá a todos!

Particularmente, foi por esse texto que decidi criar esse blog, tendo em vista que uma pessoa me incentivou a publicá-lo. Ele só não foi a primeira postagem pelo simples motivo de que o Imperador Humano enquadra-se no Movimento Paranasiano Argumentativo, que precisava ser introduzido.

A propósito, o autor do Movimento Parnasiano Argumentativo sou eu. (Esqueci de publicar a autoria no primeiro post).

Imperador Humano

No planeta Terra, existem cinco reinos — Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia — governados por uma única espécie imperatriz, a humana. Contudo, ao se analisar essa realeza, percebem-se, tristemente, abismais diferenças entre sua alta e baixa nobreza. Esta última encontra-se em tão miserável situação que pode ser considerada inferior a espécies subordinadas à Homo sapiens, como é o caso da Rattus rattus.

Nota-se essa subvalorização humana em diversas situações. Certamente, a mais significativa delas é o momento da alimentação, uma vez que, enquanto reis, príncipes e duques banqueteiam-se em fartas refeições, nobres sem terra digladiam-se contra gatos vira-latas, cães pulguentos e ratos fétidos. O mais espantoso desse combate é que, de todos os competidores, o humano é o menos criterioso, haja vista que até felídeos, canídeos e a rataria selecionam o que os irá nutrir, enquanto que o homem apenas engole o que for mais semelhante a um resto de comida.

Por ser tão deplorável, é imprescindível que essa posição humana seja analisada. Esta animalizadora miséria deve-se ao egoísmo de certos membros dessa espécie perante seus semelhantes, tendo em vista que a família real e seus amigos pouco se importam com a degradante situação dos desprovidos de terra, justamente porque é sobre o suor, o sofrimento e o sangue destes que os monarcas mantêm e aumentam, gananciosamente, seus privilégios, seus domínios e seus preciosíssimos papéis-moeda. O mais impressionante de todo esse fato é o rude riso de desprezo esculpido no rosto dos poderosos quando os humilhados esfarrapados tentam, em vão, modificar suas tenebrosas e aterradoras condições de existência.

Sendo assim, percebe-se que a disparidade entre os Homines sapientes não é uma ingênua questão evolutiva, como a que diferencia babuínos de lagartixas, mas sim, social e, principalmente, ética. Portanto, só será possível uma verdadeira igualdade intra-específica se a alta nobreza passar por um real processo de conscientização e moralização, promotor de profundas mudanças na sociedade e gerador de justiça e igualdade entre todos os humanos, sem discrime de natureza alguma.


Vítor

PS: Com esta postagem, esta página na Internet começa a apresentar feições de um blog, haja vista que um blog é, por natureza, um espaço para digressões egocêntricas do Eu.

PS 1: Se alguém estiver lendo e gostando deste blog, é tristemente provável que eu só volte a postar alguma coisa no próximo final de semana. A propósito, garanto que sexta que vem já terá uma nova postagem, pois ela já está escrita.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Ruy Barbosa


Certamente, Ruy Barbosa foi um dos maiores juristas brasileiros e também um dos maiores cidadãos desse país.

Em 1920, ele foi escolhido como paraninfo dos formandos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e escreveu um lindo discurso que, basicamente, consistia em conselhos ao jovens.

Considerando toda a experiência e sabedoria desse homem, publico alguns trechos desse discurso, que ficou conhecido como Oração aos Moços:


Então a palavra se eletriza, brame, lampeja, atroa, fulmina. Descargas sobre descargas rasgam o ar, incendeiam o horizonte, cruzam em raios o espaço. É a hora das responsabilidades, a hora da conta e do castigo, a hora das apóstrofes, imprecações e anátemas, quando a voz do homem reboa como o canhão, a arena dos combates da eloqüência estremece como campo de batalha, e as siderações da verdade, que estala sobre as cabeças dos culpados, revolvem o chão, coberto de vítimas e destroços incruentos, com abalos de terremoto. Ei−la aí a cólera santa! Eis a ira divina!

Quem, senão ela, há de expulsar do templo o renegado, o blasfemo, o profanador, o simoníaco? quem, senão ela, exterminar da ciência o apedeuta, o plagiário, o charlatão? quem, senão ela, banir da sociedade o imoral, o corruptor, o libertino? quem, senão ela, varrer dos serviços do Estado o prevaricador, o concussionário e o ladrão público? quem, senão ela, precipitar do governo o negocismo, a prostituição política, ou a tirania? quem, senão ela, arrancar a defesa da pátria à cobardia, à inconfidência, ou à traição? Quem, senão ela, ela a cólera do celeste inimigo dos vendilhões e dos hipócritas? a cólera do justo, crucifixo entre ladrões? a cólera do Verbo da verdade, negado pelo poder da mentira? a cólera da santidade suprema, justiçada pela mais sacrílega das opressões?


Então vim a perceber vivamente que imensa dívida cada criatura da nossa espécie deve aos seus inimigos e desfortunas. Por mais desagrestes que sejam os contratempos da sorte e as maldades dos homens, raro nos causam mal tamanho, que nos não façam ainda maior bem.

[...]

Quanto é pela minha parte, o melhor do que sou, bem assim o melhor do que me acontece, freqüentemente acaba o tempo convencendo−me de que não me vem das doçuras da fortuna propícia, ou da verdadeira amizade, senão sim que o devo, principalmente, às maquinações dos malévolos e às contradições da sorte madrasta.

[...]

De sorte que, no perdoar aos inimigos, muita vez não vai somente caridade cristã, senão também justiça ordinária e reconhecimento humano.


A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem. Esta blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria, proclamada em nome dos direitos do trabalho; e, executada, não faria senão inaugurar, em vez da supremacia do trabalho, a organização da miséria. Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho.

Os portentos, de que esta força é capaz, ninguém os calcula. Suas vitórias na reconstituição da criatura maldotada só se comparam às da oração.

Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo sublimar−se d’alma pelo contacto com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua de cada um sobre si mesmo e sobre o mundo onde labutamos. O indivíduo que trabalha, acerca−se continuamente do autor de todas as coisas, tomando na sua obra uma parte, de que depende também a dele. O criador começa, e a criatura acaba a criação de si própria.

Quem quer, pois, que trabalhe, está em oração ao Senhor. Oração pelos atos, ela emparelha com a oração pelo culto. Nem pode ser que uma ande verdadeiramente sem a outra. Não é trabalho digno de tal nome o do mau; porque a malícia do trabalhador o contamina. Não é oração aceitável a do ocioso; porque a ociosidade a dessagra. Mas, quando o trabalho se junta à oração, e a oração com o trabalho, a segunda criação do homem, a criação do homem pelo homem, semelha às vezes, em maravilhas, à criação do homem pelo divino Criador.

[...]

Já vedes que ao trabalho nada é impossível.


Estudante sou. Nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem isso mesmo sei se saberei bem. Mas, do que tenho logrado saber, o melhor devo às manhãs e madrugadas.


O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas. Já se vê quanto vai do saber aparente ao saber real. O saber de aparência crê e ostenta saber tudo. O saber de realidade, quanto mais real, mais desconfia, assim do que vai aprendendo, como do que elabora.





PS: para quem gostou do texto e quer lê-lo por completo, o link é esse: http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Oracao_aos_mocos.pdf

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Explicação do título

Inicialmente, minha saudações!

Vocês, leitores, podem me chamar de Vítor e o único fato que precisam saber sobre mim é que sou um apreciador da literatura e da boa argumentação. Visando à união desses meus interesses, criei o Movimento Parnasiano Argumentativo!

Para entender o título, é necessário, primeiramente saber o que foi o Movimento Parnasiano na Literatura. Acredito, veementemente, que quase todos que cursaram o Ensino Médio saibam o básico sobre essa escola literária. Caso você, caro leitor, nunca tenha visto nada sobre o Parnasianismo, recomendo a leitura do seguinte site: http://educaterra.terra.com.br/literatura/parnasianismo/parnasianismo_1.htm .

Para os que são ocupados de mais para ler um texto teórico tão grande, um resumo do que é mais importante para esse blog:

PRECIOSISMO FORMAL - Os parnasianos prezam muito a forma e o vocabulário erudito, criando textos, freqüentemente, herméticos.

Unindo essa característica com a argumentação, criam-se textos opinativos que apresentam, sempre, um bom vocabulário, uma boa sintaxe e, se possível, figuras de linguagens.

Para ficar mais clara essa explicação, publico a baixo o Manifesto de Inauguração do Movimento:

Manifesto Parnasiano Argumentativo

No gênesis, era apenas um texto argumentativo, que visava a convencer o leitor a adotar uma perspectiva a respeito de um tema. Para tanto, não se fazia necessária uma apurada técnica lingüística, uma vez que bastava ao expositor das idéias descartar descuidadosamente as palavras, formando simplórias construções gramaticais.

Todavia, a última flor do Lácio evoluiu, transformou-se e apurou-se. Para não fazer desfeita a esse desenvolvimento, é necessário, em qualquer mensagem, sobretudo nas que aspiram à divulgação de um ponto de vista, que se trabalhe delicadamente a fina arte da escrita. O autor deve, com sua pena, fazer, com a linguagem, o que Michelângelo concebia no Carrara, uma obra delicadamente grandiosa.

O processo de criação dessas jóias da argumentação deve ser tão íntimo quanto a relação entre a mãe e seu filho. A concepção do texto deve ser carinhosa, o escritor deve mimar sua criança, fornecendo-lhe todas as substâncias fundamentais ao pleno desenvolvimento dos filhos da retórica. Para esta árdua e magnífica tarefa, exige-se que o pai contemple as mil faces secretas das palavras e, com a chave, desvende o mistério sob a face neutra, elegendo, sempre, o vocábulo mais próximo da perfeição. É também de suma importância que o escritor aja com a sintaxe da mesma maneira como o pastor cuida de suas ovelhas, ele deve guiá-la e orientá-la para que siga no caminho da retidão e do entendimento. Além disso, essa infanta, educada na trilha da sabedoria, deve ter suas idéias voando ao lado do Condor.

Dessa forma, com o refino da ourivessaria, é possível dar vida à mais bela águia da dialética, criando escritos de magnitude, que se destacam pela beleza da construção e pela alvura dos pensamentos. Gratia argumentandi, o Parnasianismo Argumentativo flerta com a Vênus da retórica.