O texto que se segue é motivado por um minúsculo debate que tive com dois amigos. Minha participação foi bem curta porque eu tinha que resolver algumas coisas em um período de tempo bastante escasso. Por causa dessa curta participação, decidi escrever meus pensamentos aqui.
O debate iniciou-se pela discussão de quão cruel foram os atos que o Brasil realizou durante a Guerra do Paraguai e fez me refletir sobre a questão da guerra em geral.Inicialmente, é necessário definir, com exatidão, o objeto do estudo:
Guerra: luta armada entre nações, ou entre partidos de uma mesma nacionalidade ou de etnias diferentes, com o fim de impor supremacia ou salvaguardar interesses materiais ou ideológicos [Dicionário Houaiss]
Sabendo já o que é guerra, é possível analisar suas particularidades, mais especificamente o que se pode chamar de Ética na guerra. Esse campo da Filosofia da Moral, indaga se o ato bélico é moral, imoral ou amoral.
Alguns defenderiam que uma guerra pode ser justa, portanto moral, caso ela lute por ideais corretos, como a defesa da democracia e da humanidade.
Outros dizem que uma guerra é imoral, quando combate por objetivos vis e mesquinhos, como conquista de certos recursos naturais.
Os dois lados podem estar certos, contudo apenas sobre o que gerou a guerra. Eles não estão refletindo sobre o ato bélico, mas apenas sobre suas causas e motivações.
A guerra, considerando apenas seus combatentes (desde o soldado do front até o general do Alto Comando), é amoral, pois, nela, não existe mais a razão, sendo, portanto, impossível de qualificá-la como moral ou imoral. É possível afirmar isso, baseando-se em dois pilares:
- Os combatentes não mais se importam com o certo ou errado, eles se importam com o sobreviver e farão tudo ao seu alcance para alcançar esse fim. Eles fugirão, matarão, farão massacres, desde que sobrevivem.
- A guerra não é própria dos homens, como já disseram Cícero e Maquiavel "Existem, realmente, duas maneiras de resolver um diferendo: um pela discussão, o outro pela força: a primeira é própria do homem, a segunda dos animais; é preciso recorrer a esta última, se a precedente é impraticável." Sendo o ato bélico típico dos animais e estes incapazes de refletir, a guerra não pode ser julgado por preceitos morais, pois ela é amoral.
Além desses dois importantes fatores, é importante ressaltar que a guerra só se inicia quando todos os meios racionais de solução de controvérsias provaram-se ineficientes. Quando o Respeito, a Diplomacia e o Direito falham, a guerra se inicia. Em outras palavras, apenas quando a Razão mostrou-se integralmente incapaz de solucionar uma questão, os homens agem animalescamente e iniciam a guerra. Portanto, não havendo Razão na guerra, ela não pode ser rotulada como moral ou imoral, ela é apenas amoral.
Tendo a amoralidade da guerra sido clarificada, resta apenas mais um afirmação: não há juízo de valor no ato bélico. Ele não foi bom ou mal, ele apenas foi. Milhões de homens matarem outros milhões de homens não foi certo ou errado, apenas foi. Não cabe, no ato bélico, perguntar: "deve-se matar?" ou "deve-se fugir?". O que é válido e necessário é indagar, antes da guerra, se é racionalmente justo iniciá-la, pois, depois que ela começa, o instinto animal humano vai às últimas consequências.
Gostariam de comentários. Caros leitores, vocês concordam ou discordam?
2 comentários:
Vítor, acho que compreendi bem as condições especiais em que a guerra transcorre, e ainda penso que passei a concoradar com você sogre a imoralidade da Guerra.
Contudo meu ponto está no simples fato de a Guerra ser, em grande parte dos casos, feita por motivos mesquinhos, tendo em vista os avassaladores efeitos desse feito.
Enquanto se decide a existência e os rumos de uma guerra, abre-se mão da moral que ainda encontra espaço nos seres humanos, devido ao pré-guerra ser um momento de liberdade, de escolha, ao contrário da Guerra. Havendo liberdade, fazer Guerra seria, na minha opinião, quase sempre, completamente anti-ético.
Decidir fazer a guerra é, freqüentemente, imoral.
"Havendo liberdade, fazer Guerra seria, na minha opinião, quase sempre, completamente anti-ético." - Esta seria a resposta para esse trecho do que escrevi "indagar, antes da guerra, se é racionalmente justo iniciá-la".
Aliás, creio que essa nossa questão deveria ter sido feita pelo presidente da Geórgia antes de comprar uma guerra contra um adversário muito mais poderoso do que ele, a Rússia!
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