quarta-feira, 30 de julho de 2008

Dos Deveres, de Marco Túlio Cícero

Olá a todos!

Como vou escrever mais uma vez sobre Cícero, vou direto ao trechos do livro Dos Deveres que considerei mais interessantes:

  • O homem, pelo contrário, porque nele atua a razão, graças a ela distingue as ligações, vê as causas dos acontecimentos; os seus pródromos e, por assim dizer, os seus antecedentes não lhe escapam, relaciona as analogias; às coisas presentes ele liga e estabelece a conexão às futuras, assim abrangendo facilmente com o seu olhar o decurso de toda a vida e, para conduzir, previne o que é necessário. Esta mesma natureza, pela virtude da razão, inclina o homem para o homem, visando uma comundiade de linguagem e de vida; ela põe nele, acima de tudo, um amor especial pelos filhos; impele-o a querer que haja reuniões e assembléias e a freqüêntá-las; estimula-o ao esforço de procurar o que prover à sua conservação e subsistência, não somente para si, mas também para a sua esposa, os seus filhos e os outros seres que lhe são caros e a quem deve proteger; o ra, este cuidado estimula também as almas e engrandece-as para a ação.

  • Ora a natureza e a razão transpondo essa imagem do domínio da vista para o da alma, estima que é preciso, bem mais ainda, respeitar a beleza, a coerência, a ordem nos desíginios e nas ações; e acautela-se de toda a indignidade ou indolência, no conjunto dos seus pensamentos e dos seus atos, a fim de nada fazer ou pensar por paixão.

  • A primeira função da justiça é evitar que se prejudique alguém, se não se é provocado pela injustiça, depois, que se utilizem os bens comuns como bens comuns e os bens pessoais como de bens próprios.

  • O fundamento da justiça é a boa fé, quer dizer, a fidelidade e a sinceridade nas palavras e compromissos tomados. (Como seria bom se a instituição judiciária atual foi tão bonita assim... Utopia de vez em quando é bom...)

  • Existem duas espécies de injustiça: a primeira, a dos que prejudicam, a segunda a dos que, podendo, não defendem da injustiça aqueles contra quem ela é cometida.

  • É precisamente quando se mergulha na paixão pelo poder, pelas honrarias, pela glória, qua a maior parte dos homens é tentada a esquecer a justiça. [...] Mas o que há de mais grave nesse assunto é que nas mais elevadas almas e nos mais brilhantes caracteres é que na maioria das vezes se encontra a paixão das honrarias, do poder, da dominação, da glória. (Pode-se interpretar isso quase que como uma auto-crítica, pois Cícero, quando houve a conspiração maquinada sacrilegamente por Catilina, feriu o direito dos conspiradores para salvar a República.)

  • Eles [filósofos] atingem de fato a primeira espécie de justiça, impedindo-os de prejudicar outrem por uma ação injusta, mas falham na segunda, porque, monopolizados pelo gosto de aprender abandonam os que devem defender. (Frase sapientíssima de Cícero, afinal, do que adianta grande gênios que nada fazem pela sociedade. É necessário que os inte4lectuais não apenas pensem, mas ajam também!) (Isso combina bastante com esse trecho de Do Orador: Platão, decidindo pôr as sua teorias por escrito, imaginou uma cidade dum novo gênero, verdadeira quimera, que não existe senão no papel: de tal modo as suas idéias respeitantes à justiça eram sem relação com a vida real e os costumes de cada dia.)

  • A eqüidade de fato resplandece por si mesma, a incerteza indica um desígnio injusto.

  • Convém, na verdadem referir-se os princípios da justiça que coloquei no início, a saber, primeiramente, não prejudicar ninguém e emseguida servir o interesse geral.

  • Existem, realmente, duas maneiras de resolver um diferendo: um pela discussão, o outro pela força: a primeira é própria do homem, a segunda dos animais; é preciso recorrer a esta última, se a precedente é impraticável. (Maquiavel, em O Príncipe, citou esse trecho, mas não disse que fora Cícero que o escrevera. As pessoas não preocupavam com Direitos Autorais... ainda.)

  • É por essa razão que as guerras devem ser desencadeadas: que se possa viver em paz, sem injustiça; mas após a vitória, é preciso deixar viver os que, durante a guerra, não foram nem selvagens, nem bárbaros.

  • Esta [justiça], na verdade, não somente jamais prejudica alguém, mas, pelo contrário, é uma fonte de vantagens, primeiramente pela sua virtude própria e sua essência, porque acalma as almas, depois pela esperança, que transmite, que não faltará a alguma das coisas que a natureza não perversa pode desejar.

  • A injustiça, uma vez instalada num espírito, apenas por nele estar presente, o perturba. (Outra utopia...)

  • Uma concepção verdadeira convida, pois, os homens, que são sãos de espírito, à justiça, à eqüidade, à boa fé. (O mundo seria tão melhor se isso fosse verdade para metade das pessoas do planeta.)

  • Portanto, da justiça, não mais será fundamentado dizer que ela pesquisa para si mesma: o que a recomenda é a enorme abundância de satisfações que ela traz. Porque ser amada e querido é uma coisa agradável, no sentido, que ela tem, de dar à existência mais segurança e ao prazer mais plenitude. (Um pouco de fé no Direito nunca é demais.)

  • A injustiça deve, segundo nós, ser evitada, é ainda muito mais porque uma vez instalada na alma dum homem ela não lhe permite jamais respirar, jamais encontrar o repouso.

Até mais!
Vítor.

PS: Cícero era, indubitavelmente, um homem muito sábio.

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