Olá a todos!
Terminei, finalmente, de ler Da República, de Marco Túlio Cícero, pretendo, pois, escrever sobre o livro e seu autor.
Uma breve biografia
Cícero (106 a.C – 43 a.C) foi, indubitavelmente, um dos maiores oradores romanos e, provavelmente, seu nome ilustra entre os grandes retóricos da História. Estudioso incansável, Marco Túlio foi à Grécia aprender sobre Filosofia e Retórica, tendo como professores os grandes sábios de seu tempo. Graças a essa enorme dedicação, Cícero não só se tornou um dos homens mais cultos homens de Roma como também um dos mais capazes estudiosos, dedicando-se à Filosofia, à Poesia, aos temas subjetivos (amizade, por exemplo) e, sobretudo, ao Direito. Neste ramo, Marco Túlio foi considerado o melhor advogado de toda a República Romana, após ter vencido, no julgamento de Verres, o célebre advogado Quintus Hortensius.
Além de todas essas glórias, Cícero também foi um brilhante membro do Senado Romano, no qual pronunciou formidáveis discursos, como Catilinárias, que denunciou a conspiração de Lúcio Sérgio Catilina contra a República. (Estou lendo esse livro também). Algo interessante de sua carreira política era a extrema acidez, como se percebe pelo seguinte trecho retirado da biografia presente no livro Da República , da Editora Escala:
Irritado com Munácio, porque este, cuja absolvição ele conseguira, demandava contra Sabino, um dos seus amigos, disse-lhe Cícero: — “Estás mesmo pensando, Munácio, que foste absolvido graças à tua inocência, e não à minha eloqüência, que ofuscou a luz aos olhos dos juizes?” Como Marco Crasso lhe manifestasse sua estranheza diante de uma censura, quando pouco tempo antes havia sido por ele elogiado, Cícero respondeu-lhe: — “Sim, eu quis experimentar o meu talento num motivo ingrato.” Mais tarde, esse mesmo Crasso, querendo reconciliar-se com Cícero, avisou-o de que iria cear com ele; e, algum tempo depois, como alguém lhe comunicasse que Vatínio, com quem ele também brigara, desejava fazer as pazes, disse Cícero: — “Vatinio também quer cear comigo?” Ao verificar, um dia, que era falsa a notícia que correra da morte de Vatínio, exclamou: — “Maldito quem mentiu tão inoportunamente!” A um rapaz que o ameaçava de cobri-lo de injúrias e que, pouco antes, fora acusado de ter envenenado o próprio pai com um bolo, disse Cícero: — “Prefiro tuas injúrias ao teu bolo.” A um certo Públio Cota, que se tinha na conta de jurisconsulto, embora ignorante das leis e medíocre, retrucou Cícero, quando aquele, interrogado como testemunha num processo, lhe respondera que não sabia nada: — “Julgas que te interrogo sobre o direito?” Como Metelo Nepote, numa discussão acalorada, perguntasse insistentemente a Cícero quem era seu pai, teve esta resposta: “— Graças à tua mãe, encontras mais dificuldade do que eu para responder a essa pergunta.” Ao ouvir Marco Ápio dizer, numa defesa, que o amigo que ele defendia lhe recomendara muita exatidão, raciocínio e boa fé, interrompeu-o Cícero: — “E como tens coragem de não fazer nada do que o teu amigo te pediu?” Tendo Verres, cujo filho adolescente era tido como homossexual, chamado Cícero de efeminado, este respondeu-lhe: — “É uma censura que deves fazer ao teu filho, com as portas fechadas.”
Essa acidez e a veemente defesa das instituições romanos acabou por conquistar-lhe inúmeros e poderosos inimigos. O primeiro triunvirato (César, Pompeu e Crasso) vendo Cícero como um risco ao seu poder, exilou-o. Contudo, Marco Túlio conseguiu voltar a Roma e continuar a combater o jugo tirânico de César, principalmente. Já o segundo triunvirato (Marco Antônio, Otávio e Lépido), receoso que Cícero fosse um obstáculo tão formidável quanto fora para o primeiro triunvirato, preferiu eliminá-lo. Então, Cícero foi assassinado, dizendo, como últimas palavras Moriar in patria saepe servata (Morra eu na pátria que tantas vezes salvei).
Este foi, bastante resumidamente, o grande homem Marco Túlio Cícero.
Etimologia: Cícero significa grão-de-bico.
Sobre o livro Da República
Enquanto esteve exilado, Cícero escreveu esse livro, que se tornaria seu mais importante escrito. Nele, Marco Túlio disserta sobre o Estado, analisando as três principais formas de governo (Monarquia, Aristocracia e Democracia), indicando os principais perigos e erros das três formas.
Para falar sobre a Monarquia, citarei trechos do livro (uma vez que eles são bastante poéticos e grandiloqüentes):
· E essa forma de governo [Monarquia] é a mais exposta a mudanças e transtornos, porque os vícios de um só podem bastar para precipitá-la num funesto abismo.
· No mesmo momento em que um rei se deixa dominar pela injustiça, converte-se em tirano, e nada é mais horrível e repulsivo aos deuses e aos homens do que esse animal funesto que, embora com forma humana, sobrepuja, em ferocidade e crueldade, as mais desapiedadas feras. Quem dará o título de homem a um monstro que não reconhece comunidade de direitos para com os outros homens, nem laços que o unam à humanidade?
Para falar sobre a Democracia, citarei um trecho (que também é muito belo): Negamos o nome de República a Siracusa, a Agrigento, a Atenas, quando dos tiranos, e a Roma, quando dos decênviros; não creio que corresponda mais o nome de República ao despotismo da multidão, porque o povo não está para mim, como tu, ontem, Cipião, disseste muito bem, senão onde existe o consentimento pleno de direito, sendo esse conjunto de homens tão tirano como se fosse um só e tanto mais digno de ódio quanto nada há de mais feroz do que essa terrível fera que toma o nome e imita a forma do povo.
Para falar sobre a Aristocracia, citarei um trecho e farei um comentário: Reconheço, Espúrio, tua aversão ao sistema popular, e, mesmo que pudesse ser tratado com mais lenidade do a que costumas usar, concedo, não obstante, que dos três gêneros, é esse o menos digno de aprovação. Mas, não estou de acordo contigo em preferir ao rei os aristocratas; porque, ai é a sabedoria que há de governar a República, que importa que resida num ou em muitos? (Lembrando que para Cícero, um rei sábio seria a melhor maneira de governo. Contudo, os riscos de um tirano eram altos demais para ele, como se comprova pelas citações acima. Ele também considerava que os riscos de aristocratas se transformarem em tiranos era perigoso demais.)
Fora isso, no livro Da República, há muitas palavras sábias, tais como:
· O Estado que escolhe ao acaso seus guias é como o barco cujo leme é entregue àquele dentre os passageiros que a sorte designa.
· Todo povo livre escolhe seus magistrados e, se é cuidadoso de sua sorte futura, elege-os dentre os melhores cidadãos; porque da sabedoria dos chefes depende a salvação dos povos.
· Quando um ou muitos ambiciosos podem elevar-se, mediante a riqueza ou o poderio, nascem os privilégios de seu orgulho despótico, e seu jugo arrogante se impõe à multidão covarde e débil.
· O vulgo, não sabendo discernir o verdadeiro mérito, imagina que os melhores homens são os mais poderosos, os mais ricos ou de mais ilustre nascimento. (A necessidade de educação de qualidade a todos já era percebida antes de Cristo. É triste notar que essa necessidade ainda urge!)
· Não há no mundo espetáculo mais triste que uma sociedade em que o valor dos homens é medido pelas riquezas que possuem. (Não há frase mais atual, não?)
Portanto, devido às inúmeras qualidades desta obra, recomendo sua leitura. Inclusive, nem é necessário pagar para lê-la, uma vez que os Direitos Autorais de Cícero não mais existem (eles duram até 50 anos após a morte do autor). Caso vocês se interessem, basta entrar nesse site: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/darepublica.html#6.
Valete, fratres!
Vítor.
PS: Estou lendo o livro Economia sem truques e espero que um de seus autores seja meu professor na faculdade, uma vez que ele é docente na FEA-USP.
PS 2 do PS: Os autores do livro Economia sem Truques são Carlos Eduardo Gonçalves e Bernardo Guimarães.
PS do PS 2 do PS: O autor a quem me referi no PS é o Professor Doutor Carlos Eduardo.
PS 1:Eu gosto de PSs.
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