segunda-feira, 28 de julho de 2008

Do orador, de Marco Túlio Cícero

Olá a todos!


Escrevo, novamente, sobre uma obra de Cícero. Vocês já devem estar entediados de tanto ler sobre esse brilhante romano, não é mesmo? Mas ainda assim, eu escreverei sobre ele, pois Cícero é digno de toda a admiração!


Basicamente, na obra Do Orador, Cícero trata sobre o que é um orador e dá conselhos sobre como um orador deve agir. Obviamente, todas essas dicas são da maior importância, afinal de contas, Marco Túlio Cícero sabia muitíssimo bem o que era um orador de qualidade!


Abaixo alguns trechos muito bons, tanto para pessoas que utilizam a oratória para trabalho (políticos, diplomatas, professores, advogados etc), quanto para aqueles que utilizam essa arte por diversão (modelistas e afins):

· A arte do bem dizer supõe, necessariamente, para o que fala, o exame anterior e cada vez mais aprofundado do sujeito de que se fala.


· Toda a diferença provém dessa vantagem, que as pessoas eloqüentes possuem: uma elocução bem ordenada, realçada pelos ornamentos e o polimento da arte. Mas esta elocução, se não tem por apoio um conhecimento exato e completo das coisas, eu afirmo que ou não será nada ou apenas provocará o riso do auditório. Que há na verdade de mais extravagante que um conjunto de palavras, as quais, mesmo as mais escolhidas e as mais brilhantes, não são mais do que um vão ruído, quando não contêm nem ciência nem pensamentos?


· O que devem fazer os oradores: Leiamos os poetas, aprendamos a história dos diferentes povos, dediquemo-nos aos mestres da cultura liberal, professores e escritores; folheemos assiduamente o que eles esqueceram e aperfeiçoemo-nos sobre as suas obras panegíricas ou exprobatórias, de comentário, correção, refutação. Saibamos sustentar os prós e os contras de todas as questões, extrair de cada assunto todos os argumentos plausíveis que ele contenha. Acrescentemos a isto o estudo aprofundado do direito civil, o conhecimento das leis, a ciência da nossa antigüidade; tradições do senado, princípios da nossa governanção, tratados, convenções, interesses do império e tantas outras noções ainda a dominar.


· O que é o orador: Repito, não é qualquer vil advogado de profissão que é aqui visado, nem qualquer gritador ou vociferante do foro; procuramos um homem considerado mestre em arte, cuja natureza, sem dúvida, por si mesma pôs o germe nas nossas almas, mas cuja grandeza é tal que se preferiu relacionar-lhe a origem a um deus, para deixar crer que esta faculdade propriamente humana era menos o resultado de nossos esforços que um presente enviado pelo céu; procuramos um homem que, melhor protegido pelo seu título de orador que pelo caduceu do arauto, avança com toda segurança pelo meio da tropa inimiga, cuja eloqüência, atacando os culpados, entregue o crime e perfídia à indignação pública e ao gládio das leis, cujo gênio segure a inocência perante o tribunal e o arranque dum castigo injusto; um homem ainda que, se a nação adormece, a acorda e a chama ao dever, se resvala para o erro, a retira do trilho, que a inflama contra os maus e de irritada que estava, a adoça em proveito dos bons; um homem enfim que, segundo o que a circunstância e a causa o obriguem, saiba pela sua palavra levantar a alma dos auditores ou acalmar as paixões.


· O que é o orador: Esta faculdade [oratória] não deve pobre e despida, mas impregnar-se de idéias e matizar-se duma agradável variedade de cores, as atribuições de um bom orador é ser muito sabedor, muito considerado, muito refletido e ponderado, muito demorado nas suas deambulações através dos livros; e sem dúvida não dominará inteiramente esses assuntos, como coisas eu lhe pertença, mas, olhando-as sempre como estranhas à sua arte, vertê-las-á pelo menos pelo menos aflorado. Porque, confesso-o, é um homem verdadeiramente apto, que em nenhum ponto é noviço ou ignorante, nem semelhante ao provinciano acanhado ou ao hóspede de passagem, é um homem assim feito que eu quero, quando advoga, poder encontrar.


· O que é o orador: O orador, amparando-se em tudo o que, no ordinário da vida, passe por um mal, uma desgraça, uma coisa a evitar, exagera-o pelas suas palavras e aviva a amargura; inversamente, a tudo o que provoca os desejos e as aspirações do vulgar, ele sabe dar ainda mais magnificência e mais sedução. Cícero exemplifica essa atitude, com perfeição, em Catilinárias.


· O que é o orador: É um homem diferente de espírito penetrante que precisamos, duma habilidade natural acrescida pela experiência, que explora com sagacidade a alma dos concidadãos e daqueles que quer persuadir, esclarece as suas idéias, os seus sentimentos, a sua paixão, a sua expectativa.


· Crítica aos idealistas: Platão, decidindo pôr as sua teorias por escrito, imaginou uma cidade dum novo gênero, verdadeira quimera, que não existe senão no papel: de tal modo as suas idéias respeitantes à justiça eram sem relação com a vida real e os costumes de cada dia.


· A oratória pode ser determinante em importantes momentos: Sócrates ter sucumbido unicamente por lhe ter faltado a eloqüência.


· O que é um orador: Damos o título de orador, seguindo a definição e Crassus, ao homem cuja palavra sabe persuadir.


· Cícero, milagrosamente, elogia alguém: Que ele imita quem ninguém contesta ser a soberana potência da oratória, o ateniense Demóstenes. Tal foi, diz-se, o ardor desse grande homem, tais foram o seu zelo infatigável e os seus esforços contínuos, que começou por vencer todos os obstáculos que a natureza lhe opunha. Ele era gago, ao ponto de ser incapaz de pronunciar a primeira letra da sua arte; à força de exercícios, obtém o resultado de falar, segundo a opinião geral, mais distintamente que ninguém. Para o Cícero, que era arrogante, elogiar alguém, essa pessoa tem que ser muito boa mesmo. Agora as duas Filípicas, tanto a de Demóstenes quanto a de Cícero, estão na minha lista de livros.

Demóstenes



Até mais!

Vítor!

4 comentários:

Dhakwan disse...

Olá!
Gostei muito desse sua inicitativa! O post ficou interessantíssimo. Sou tradutora e professora e sempre me vejo às voltas com as questões de linguagem que permeiam meu trabalho.
Também tenho um blog. Vai aqui um convite para uma visita: www.leitora-dhakwan.blogspot.com
Abraços

Anônimo disse...

Adorei seu Blog, Vitor! Sou pesquisadora do Direito e sempre me encontro na filosofia... Parabéns por tratar de Cícero de forma tão sucinta e clara!

Anônimo disse...

Eu adorei esse artgo e seu blog...
Penso em comprar esse livro do Cicero e muitos outros do mesmo autor...
Só que nao encontro esse livro ... vc pode me da uma dica de onde achar?
Ou passar uma Editora que ja tenha publicado aqui no BR.?
maurofmb@yahoo.com.br

Vítor disse...

Olá, Mauro.
Encontrei esse livro na Livraria Cultura. Também recomendo "As Catilinárias", pois é muito bom e mais fácil de achar.
Abraços.